Ele era de boa família, mas nem por isso havia se salvado: Latoeiro de profissão, trambiqueiro por vocação. Ela, apesar do gosto pela teologia, deixara o convento antes de tornar-se efetivamente freira, e agora trabalhava como secretária e fazia o cafézinho.
Ele não gostava de café, mas agora poderia esvaziar uma garrafa cheia. Ela não era muito detalhista, mas agora achava coisas tortas por todo canto.
Aos poucos a intimidade deles, apesar de silenciosa, tornou-se palpável. Ela às vezes encurtava ainda mais o que já era o apelido dele; ele mostrou-se atencioso, coisa que antes só fazia com os carros que consertava.
Ele começou a errar a pintura do Opala 86. Ela começou a fazer o café, que antes era perfeito, amargo demais.
Ele começou a passar perfume e fazer a barba, mesmo sabendo que no fim do dia acabaria todo sujo e cheirando a graxa. Ela passava batom e se vestia o mais caprichosamente que podia, mesmo que o batom acabasse borrado por conta da falta de prática e as blusinhas mostrassem os braços parte morenos, parte branquelos, pela falta de sol.
Um dia ele consertou um carrinho quadriciclo na empresa e chamou ela para dirigir. Ela nunca se sentira tão feliz com os cabelos ao vento e ele sentado ao seu lado.
"Ah, como é lindo o amor" eu disse enquanto continuava o meu serviço e olhava pela janela, tomei um gole de café e fui dominada pela azia devida ao amargo exagerado "pelo menos enquanto eu não tiver que demitir ninguém por causa disso."
Hahaha, que bonita história, Amanda!
ResponderExcluirMeu café é ruim, mas nem é culpa da paixão. ^^
Siiim! Linda, linda história!
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