Criando e Parafraseando...

Um mundo onde se pode voar e alcançar o inatingível, ficar na ponta dos pés para tocar a luz da lua...

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Passado, Presente e Futuro

A vida é uma iniquidade!
Nunca estamos satisfeitos. Sempre pensamos no amanhã (mesmo não sabendo se ele irá existir), assim como sempre damos um tremendo valor ao que já passou (mesmo que, oras!, ele já tenha passado!).
A primeira memória concreta que tenho da minha vida é do dia 22 de fevereiro de 1992. Acreditem ou não, a festa do meu primeiro aniversário... Da minha tia Bia me segurando na balança do clube em que foi a festinha... Depois disso lembro de mais um quinquilhão de coisas, que provavelmente não caberiam em um livro, muito menos em um post de blog.
Não que eu tenha vivido demais... Mas porque eu me lembro demais...
Lembro que quando eu tinha três anos, uma criança miudinha levada pela mãe para a escolinha, se minha mãe me dissesse que estava perto do meu aniversário e algum aluno mais velho (do ensino médio, provavelmente, que estava matando tempo à tarde no colégio), me achava fofinha pelo meu tamanho diminuto e perguntava quantos anos eu tinha, eu já adicionava um dedo à minha contagem de anos de vida.
Eu queria crescer. Eu queria poder ir a pé para a escola. Eu queria poder carregar todo o meu material em uma mochila de rodinhas, e não apenas levar aquelas pastinhas de elástico pra casa quando tinha tarefa (coisas realmente complicadas como colar gravuras e ligar pontos).
No ensino médio, descobri que levar o material para casa todos os dias não era lá grandes coisas... E também estava louca para fazer 18 anos para poder dirigir. Ir para a faculdade dirigindo, então? Ah! Que sonho! A faculdade... Reino distante onde todos os sonhos se realizam.
Agora... É comum. O que eu quero? Muita coisa. Principalmente ficar mais velha para poder ganhar mais dinheiro. (não que seja algo proporcional, mas acho que vocês me entenderam). E ao mesmo tempo, gostaria de voltar a ser criança para poder brincar na caixa de areia, dar tchau pro chafariz, assistir Pica-Pau antes do almoço e Os Trapalhões depois, e, acima de tudo, não ter tantas responsabilidades.
Provavelmente daqui alguns anos irei sentir falta de tomar coca-cola com a galera da faculdade, quando nós sentávamos despretensiosos e lembrávamos dos velhos tempos... Dos velhos desenhos... Dos velhos doces... Dos velhos amigos...
E, se antes eu adicionava dedos à minha contagem de anos vividos, irei fazer exatamente o contrário, pedindo para que meu aniversário não chegue tão rápido, e que, se puder, que o tempo pare e eu fique só de espectadora das minhas próprias memórias.

sábado, 21 de novembro de 2009

O Malandro e a Freirinha

Ele era de boa família, mas nem por isso havia se salvado: Latoeiro de profissão, trambiqueiro por vocação. Ela, apesar do gosto pela teologia, deixara o convento antes de tornar-se efetivamente freira, e agora trabalhava como secretária e fazia o cafézinho.
Ele não gostava de café, mas agora poderia esvaziar uma garrafa cheia. Ela não era muito detalhista, mas agora achava coisas tortas por todo canto.
Aos poucos a intimidade deles, apesar de silenciosa, tornou-se palpável. Ela às vezes encurtava ainda mais o que já era o apelido dele; ele mostrou-se atencioso, coisa que antes só fazia com os carros que consertava.
Ele começou a errar a pintura do Opala 86. Ela começou a fazer o café, que antes era perfeito, amargo demais.
Ele começou a passar perfume e fazer a barba, mesmo sabendo que no fim do dia acabaria todo sujo e cheirando a graxa. Ela passava batom e se vestia o mais caprichosamente que podia, mesmo que o batom acabasse borrado por conta da falta de prática e as blusinhas mostrassem os braços parte morenos, parte branquelos, pela falta de sol.
Um dia ele consertou um carrinho quadriciclo na empresa e chamou ela para dirigir. Ela nunca se sentira tão feliz com os cabelos ao vento e ele sentado ao seu lado.
"Ah, como é lindo o amor" eu disse enquanto continuava o meu serviço e olhava pela janela, tomei um gole de café e fui dominada pela azia devida ao amargo exagerado "pelo menos enquanto eu não tiver que demitir ninguém por causa disso."

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Bernardo e o Muro

Bernardo era um menino de uma cidade minúscula, e, como tantos outros meninos de cidades minúsculas, desde muito cedo os pais de Bernardo confiavam ao filho algumas moedas para comprar leite e pão na venda, deixavam que ele fosse de bicicleta quando tinha circo ou um pequeno parque e davam liberdade para as brincadeiras de rua que, às vezes, não era bete.
A única proibição que Bernardo tinha era que ele não poderia, de forma alguma, ir para o outro lado de um grande muro de pedras que tinha na cidade. Um muro tão alto que seria necessária muita força de vontade para pular e, tão longo que várias vezes Bernardo e seus amigos tentaram encontrar o fim do muro sem sucesso.
Muitas eram as histórias sobre o que havia atrás do muro, pois, apesar de proibido, ninguém sabia responder ao certo o que, de fato, tinha lá. As hipóteses eram muitas e iam desde uma prisão para demônios que, de tão maus, não conseguiram ficar no inferno, até um buraco negro que sugava a alma dos mentirosos.
Mas uma coisa era certeza: os corajosos (ou estúpidos) que iam para o outro lado do muro nunca mais voltavam.
O problema era que Bernardo era um menino muito curioso e a liberdade que seus pais haviam lhe dado desde muito cedo, fez com que essa curiosidade se aflorasce ainda mais.
E se atrás do muro tivesse algo muito, muito bom? Talvez fosse por isso que ninguém voltasse!
Um dia, depois da aula, Bernardo estava brincando na rua com seus amigos quando Paulinho, o menino mais rico da cidade, filho do dono do mercadinho, de quem havia ganhado uma linda bicicleta nova, amarela, igualzinha à da televisão, chegou contando vantagem com sua bicicleta:
- Olhem minha bicicleta nova! Nenhum de vocês tem uma igual!
Eu vou para qualquer lugar com ela!
- Pois eu duvido que você vá para o outro lado do muro! -disse
Jorginho, filho do Seu Jorge, o jardineiro. Todos riram.
Paulinho fechou a cara torcendo o nariz. Por essa ele não esperava. Olhou para a bicicleta novinha. Rapidamente lhe veio uma ideia para se sair bem daquela:
- Pois se alguém for para o outro lado do muro, irá
ganhar a minha bicicleta novinha!
Bernardo olhou. Aquela era sua chance! Veria o que tinha do outro lado do muro e ainda ganharia uma bicicleta nova! Seus pais não poderiam brigar com ele por ter subido no muro se o motivo fosse nobre.
- Eu vou! -falou Bernardo.
Todos os garotos arregalaram os olhos espantados. Paulinho inclusive, pois não acreditava que alguém fosse aceitar o desafio. Bernardo levantou-se e, com a expressão mais corajosa que conseguiu, foi andando até o muro. E, como todo garoto audaz de cidade minúscula, ele colocou seus dedinhos entre as pedras e começou a escalar o muro gigantesco.
Lá embaixo o tumulto era geral. Enquanto alguns incentivavam-o com "Você vai conseguir, Bernardo!" outros, mais responsáveis, gritavam "Desce daí, Bernardo!" e, claro, o grupo de Paulinho gritava "Você logo vai cair, Bernardo!"
Mas Bernardo continuava sua escalada, seus dedinhos doendo, e sua sandália muitas vezes escorregando nos pequenos vãos das pedras do muro. Mas ele continuou... Continuou... Continuou... Até que chegou ao topo!
Bernardo colocou o braço em cima do muro e se apoiou. Quando seus olhos alcançaram o outro lado do muro, ele viu algo que nunca, em toda a sua vida, esperava ver. Ele abriu a boca espantado. Mas seus braços e pernas estavam cansados da escalada, e, talvez com a emoção da surpresa, acabaram cedendo de vez e ele caiu todo o tamanho do muro.
Cinco dias depois, Bernardo acordou em uma cama de hospital. Aos poucos suas lembranças foram aparecendo, e, assim como todas as outras, veio também a visão do outro lado do muro. Seus pais chegaram e o abraçaram forte quando viram que o filho estava bem e inteiro e, depois de toda a emoção, perguntaram finalmente:
- E então, Bernardo, o que tem do outro lado do muro?
Bernardo sorriu por finalmente poder matar a curiosidade de todo mundo. Abriu a boca para falar... Mas tinha ficado mudo.

domingo, 8 de novembro de 2009

A Lagartixa e sua contribuição na história das relações humanas

Era uma vez uma lagartixa... Não havia nada de especial naquela lagartixa. Assim como suas parentas lagartixas ela era um exemplar nativo da África, pertencente ao reino Animalia, filo Chordata, classe Reptilia, ordem Squamata, subordem Sauria e e família Gekkonidae.

Porém algo em especial atormentava aquela lagartixa e ela sempre dizia para si mesma:

- Algo em especial me atormenta.

Um dia a Lagartixa estava andando entre pedras e musgos quando, de repente, viu um lagartixo esbelto e com aparência forte. Seus olhos vacilantes ficaram virando frenéticamente de um lado para o outro, analisando o másculo lagartixo. Quão grande foi a felicidade da Lagartixa quando percebeu que seu interesse era correspondido! Sensualmente ela deu uma piscadela com seus olhos grandes e esbugalhados batendo seus cílios de lagartixa.

O Lagartixo até tentou fazer-se de difícil. Impossível foi resistir, porém, quando a Lagartixa aplicou cinco passos de conquista que havia lido um tempo atrás em um blog legalzão. (Ver post anterior)

Em questão de minutos, então, o Lagartixo e a Lagartixa entrelaçavam seus rabinhos vacilantes com a intimidade de amigos de infância de lagartixa. Em menos de uma hora, a Lagartixa e o Lagartixo, muito liberais, já estavam na toca dele, sob grama e atrás do matinho. Então, no ápice da sedução a Lagartixa eufórica exclamou:

- Me joga na parede e me chama de minha Lagartixa!

E assim termina a história de uma das cantadas mais bem-sucedidas da humanidade.